Poema
São 2:30h da madrugada e eu deveria estar dormindo, mas acordei com uma rajada de metralhadora na escuridão. É mais um tiroteio na favela ao lado.Além dos tiros de metralhadora, outros tiros se seguem, mais finos, igualmente penetrantes, continuando a fuzilaria. Diria que armas de diversos calibres estão medindo seu poder de fogo a uns quinhentos metros de minha casa. No entanto, estou na cama, tecnicamente dormindo. Talvez esteja sonhando, talvez esteja ouvindo ainda o tiroteio de algum filme policial. Tento em princípio descartar a ideia de que há uma cena de guerrilha ao lado. Aliás, é fim de ano, e quem sabe não estão soltando foguetes por aí em alguma festa de rico?
Não. É tiroteio mesmo. Não posso nem pensar que são bombas de São João, como fiz de outras vezes, procurando ajeitar o corpo insone no travesseiro. Estou tentando ignorar, mas não há como: é mais um tiroteio na favela ao lado.
Se fosse durante o dia, talvez saísse ao terraço para olhar o que sucede. Muitas vezes vi carros de policiais estacionados na boca da favela, homens subindo o morro com escopetas e metralhadoras, com os corpos colados aos barracões, como em cena de filme, numa aldeia do Vietnã. Dos prédios ao lado, os moradores com a cabeça para fora das janelas, espiando, acompanhavam a fuga dos marginais se enfiando em moitas e despencando encosta abaixo. Meu corpo quer dormir. Afinal, é apenas mais um tiroteio na favela ao lado, amanhã tenho que trabalhar e esse filme eu já vi. [...]
a) Em que tipo de espaço está o narrador? _____________________________________
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b) Onde ocorre o tiroteio? __________________________________________________
c) O que o narrador quer dizer com a expressão “tecnicamente dormindo”?_____________