Pluralismo e identidade na construção do sentido: a inocência do indígena na Carta do Achamento.
Neste trabalho, considerando a identidade cultural entre o autor, Caminha, e seu destinatário, D. Manuel, como fator na construção do sentido, procuramos estabelecer as relações entre o léxico e a produção cultural do sentido através da análise dos vocábulos atualizados, levando-se em conta as condições de enunciação e as intenções de comunicação que motivaram o discurso.
Para averiguar o sentido da inocência atribuído aos indígenas, detectamos os investimentos dos valores inscritos em uma referência que lhes foi feita por Pero Vaz de Caminha pela análise de um enunciado em que, coletivizados pela denominação gente, foram os autóctones, em 1500, qualificados dessa forma, no documento conhecido como A Carta do Achamento (BAIÃO, 1940).
Como nossa investigação realizou-se a partir da perspectiva do papel do vocabulário na produção do sentido, uma vez que o léxico encerra um componente cultural, nossa abordagem iniciou-se com a primeira instância de apreensão do sentido global do texto - o discurso.
Assim, ao observarmos que o discurso recai sobre um sujeito, e tem um “tema” portador de uma “proposição”, verificamos que esta define um objeto e determina subobjetos que vão funcionar como elementos do domínio de representação visado. Tais elementos têm, assim, construídas suas existências para que possam ser tratados discursivamente, por meio de manipulações levando-se em conta a semântica. Depreende-se, para esse fim, uma classe de proposições em que um dos termos se dá como invariante, segundo Dubois (1994).
A seleção de enunciados permite estabelecer uma relação com o modelo ideológico do autor2. Esse conjunto de proposições representa-lhe a ideologia, com seu sistema de crenças e valores referenciais, inscritos nas unidades lexicais correspondentes a um conceito, termo invariante tornado objeto.
Pelo fato da