philippe aries conclus o
Philippe Aries
Tradução de Dora Flasksman
Segunda edição
Titulo original: L Enfant et la vie familiale sous 1 Ancien Régime
Traduzido da terceira edição, publicada em 1975 pela Editions du Seuil, de Paris, França, na serie Points Histoire, dirigida por Michel Winock
Copyright 1973 by Editions du Seuil .
Edição para o Brasil.
Conclusão Os Dois Sentimentos da Infância
Na sociedade medieval, que tomamos como ponto de partida, o sentimento da infância não existia- o que não quer dizer que as Crianças fossem negligenciadas, abandonadas ou desprezadas. O sentimento da infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças Corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem.
Essa consciência não existia. Por essa razão, assim que a criança tinha condição de viver sem a solicitude constante de sua mãe ou de sua ama, ela ingressava na sociedade dos adultos e não se distinguia mais destes.
Essa sociedade de adultos hoje em dia muitas vezes nos parece pueril, sem dúvida, por uma questão de idade mental, mas também por sua questão de idade física, pois ela era em parte composta de criança e de jovens de pouca idade. A língua não atribuía à palavra enfant o sentido do restrito que lhe atribuímos hoje em francês, dizia- se enfant como hoje se diz gars (jovens) na linguagem corrente.
Essa indeterminação da idade se estendia a toda a atividade social, aos jogos e brincadeiras, às profissões, às armas. Não existem representações coletivas onde as crianças pequenas e grandes não tenham seu lugar, amontoadas num cacho pendente do pescoço das mulheres, urinando num canto, desempenhando seu papel numa festa tradicional, trabalhando como aprendizes num ateliê, ou servindo como pajens de um cavaleiro.
A criança muito pequenina, demasiado frágil ainda para se misturar à vida dos adultos, "não contava": essa expressão de Molière comprova a persistência no