Pesquisa pscanalistica
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1 A intervenção psicanalítica no campo social: análise de uma experiência1Eneida Cardoso Braga∗
“O contraste entre a psicologia individual e a psicologia social ou de grupo (...) perde grande parte de sua nitidez quando examinado mais de perto. (...) Algo mais está invariavelmente envolvido na vida psíquica do indivíduo (...) de maneira que, desde o começo, a psicologia individual neste sentido ampliado, mas inteiramente justificado das palavras, é, ao mesmo tempo, também psicologia social”. Sigmund Freud
A frase com que Freud introduz a “Psicologia de grupo e a análise do ego”, em 1921, desfaz os contornos que poderiam delimitar fronteiras entre o indivíduo e o meio. Desta forma, vemos que o olhar psicanalítico está, desde o pensamento de seu fundador, atrelado ao âmbito social. Não temos dificuldade em observar que a impossibilidade de isolamento do indivíduo sempre se fez presente nos textos freudianos, antes ainda dos escritos mais especificamente voltados a este tema. Na “Introdução ao Narcisismo” (1914), por exemplo, Freud já nos diz da ação do outro humano como condicionante para que se dê, no bebê, a idéia de uma consciência de si como indivíduo integrado e separado da mãe. Na teoria freudiana, portanto, para que o indivíduo possa passar a ver-se como “si-mesmo” necessita do reconhecimento da separação, que por sua vez, é provocada pela presença do outro. A partir daí, nos diz Freud em “O mal-estar na civilização” (1929), pela possibilidade de desejar e pela inscrição na cultura, o sujeito se vê constantemente em luta para manter-se de forma menos dolorosa possível nesta árdua administração - entre o desejável e o possível, entre a possibilidade de satisfação e a necessidade da renúncia, entre o eu e os outros. Por este motivo, a clínica privada não carece, nem nunca irá carecer da escuta deste conflito. É a escuta analítica dirigida a um contexto social, para além do âmbito privado, e para além das discussões teóricas, que tem suas expressões ainda