Perico, de Juan José Morosoli
392 palavras
2 páginas
A lembrança é muito clara. Há mais ou menos dois anos tomei conhecimento da literatura do autor uruguaio Juan José Morosoli, o que se deu através de um pequeno livro de contos que a L&PM publicou em sua coleção de bolso: A longa viagem de prazer, é o nome. Gostei tanto do autor, seus procedimentos estéticos, sua leveza, que o recomendei e recomendo sempre.Depois, claro, tentando desencavar mais coisas do autor, descobri Três meninos, dois homens e um cachorro ( Mercado Aberto, 1992), que comprei pra Bia, mas acabei lendo também e adorando.
Mais recentemente foi que descobri Perico (Mercado Aberto, 1993), uma obra prima da literatura infantojuvenil. Dei pouca importância a essa classificação, me dediquei com avidez aos continhos que Morosoli traz no volume e percebi que não há nada de tão infantojuvenil assim, já que o caráter infantojuvenil, nesse caso, é nada mais que convidar o leitor a ver o mundo e a existência humana com as cores com que a juventude nos mostra, e que o adultismo nos ofusca às vistas. Os contos de Morosoli terminam bruscamente, mas é curioso perceber que o autor, com isso, nos permite fechar os olhos e terminar o texto. Em poucas linhas de cada um dos quinze textos o autor consegue dar conta justamente desse mundo gracioso que se perde, paralelamente com a perda da inocência. Dessa forma nos mostra, com sutileza, que não só o indivíduo perde a inocência, mas o mundo.
Morosoli, nos contos de Perico, é irresoluto, e, no meu entendimento, por isso, um grande autor, um grande artista. Um dos autores mais tocantes que li nos últimos tempos. Recomendo a todos.
Dênisson Padilha Filho (1971) é baiano. Escritor e roteirista de audiovisual, divide seus dias entre a Serra Geral da Bahia e a cidade. É mestre em Cultura e Sociedade pela UFBA com dissertação sobre as representações do vaqueiro no cinema nacional.
Autor de Aboios celestes (contos, 1999), Carmina e os vaqueiros do pequi (romance, 2003) e Menelau e os homens (Casarão do