perfjume
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Por Luiz Antônio Garcia DinizO nascimento de Jean-Baptiste Grenouille na Paris do século XVIII, não por acaso em um mercado de peixes cuja característica principal são os odores fétidos, é o início do que podemos considerar a abertura da história que dá origem ao filme "Perfume". Seu nascimento em um local imundo e que o faz chorar, vem em contraponto com o título do filme – Perfume -, e condiciona a estrutura narrativa em torno do que podemos nominar como uma tensão permanente entre o sublime e o dramático. Jean-Baptiste, por conta de seu olfato refinadíssimo, se distingue do resto de seus companheiros e, ao mesmo tempo, essa característica determina seu isolamento social. Assim, o que ele possui como algo inato e precioso acaba levando-o ao seu primeiro assassinato: o fascínio pelo cheiro de uma mulher o leva a matá-la acidentalmente. É aí que, a meu ver, o enunciado do filme se explicita: quando ele realiza que o cheiro que tanto o fascinava se esvai no mesmo ritmo em que sua fonte emanadora morre, o sentido de sua vida é definido pelo desafio colocado - capturar a essência da fonte do perfume sob a forma de uma composição química, o perfume.
O filme é construído magistralmente. Quer seja do ponto de vista do aspecto visual e das reconstruções de época que nos fazem mergulhar no universo histórico do século XVIII, ou do ponto de vista das tensões poéticas que flertam com uma espécie de busca metafísica, ou melhor, da tentativa de conciliar uma emoção sensorial com uma composição química. A poética produzida pelas nossas emoções caberia em um frasco de perfume? Vale lembrar que os odores são importantíssimos na preservação e como acionadores dos processos de memória e funcionam como referências fundamentais na reconstrução de fatos ou lembranças. Ou tais odores, enquanto simulacros de cheiros originários de plantas, flores, essências de animais, de momentos construídos por nossa memória se constituem em vã tentativa do ser humano de capturar o que