Percepção do eu
A separação entre as atividades de investigação e de intervenção é produto de um artifício positivista que busca atingir um ideal de objetividade para a pesquisa científica. Influenciados por esse posicionamento, alguns dos próprios investigadores qualitativos tentaram diferenciar as entrevistas em profundidade (etnográficas) dos procedimentos de observação participante; contudo não escaparam às críticas de seus colegas, como Lofland (citado por Fontana & Frey, 1994), que defendeu que ambas seguem lado a lado, e que muitos dos dados obtidos na observação participante provêm de entrevistas, mesmo as informais. Nessa mesma direção, Fontana e Frey (1994) afirmam que não é possível haver intimidade sem reciprocidade e, assim, a ênfase atual da entrevista em pesquisa tem sido a de permitir uma relação mais próxima entre o entrevistador e o respondente. Essa nova abordagem permitiria ampliar o espectro de respostas e um maior insight dos participantes; já o distanciamento entre o entrevistador e o sujeito restringe drasticamente o envolvimento deste último, fornecendo um quadro pouco acurado a seu respeito.
Na prática clínica, os malefícios que um psicodiagnóstico isento de intervenções pode trazer ao paciente foram descritos por Barbieri (2002). Também Winnicott (1965/1993) afirmava que quando as entrevistas iniciais são empregadas sem intervenção, além de não atingirem seus objetivos de formular o diagnóstico e iniciar o tratamento, desperdiçam a chance de o paciente fazer um tipo de contato, o que pode agir como terapia negativa.
Se as metodologias qualitativas demonstraram que investigação e intervenção não podem ser apartadas e a prática clínica revelou os efeitos nocivos que essa separação produz no paciente, o pensamento pós-moderno atribuiu à intervenção um status primordial, ao enfatizar que é o valor social pragmático que deve nortear a pesquisa científica. Nesses termos, a capacidade de transformação, viabilizada pela intervenção,