Para tão longo amor - álvaro cardoso gomes
Para tão longo amor
Álvaro Cardoso Gomes
Para tão longo Amor
“A vida é uma droga!” Mas, mesmo no fundo do poço mais escuro, de repente, pode brilhar a pequena luz de um vaga-lume.
Não dava para conversar com a mãe; com o pai, menos ainda. Então bebia, fumava, brigava, namorava a tonta da Neuza, tudo “para dar prazer ao corpo e esquecer que existia”. Por fora, um bobo alegre, por dentro, um infeliz, Toninho já se convencera de que era um “perfeito imbecil”. Era garoto, não esperava mais nada da vida. Até que Regina apareceu. Não tinha muito a oferecer, só um breve amor, ligeiro e fugaz, como o brilho de um pequeno vaga-lume. Só isso seria capaz de iluminar o mundo de Toninho?
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Esta é uma história de amor. Uma história de amor um pouco triste. Mas é uma história de amor verdadeira, vivida pelo Toninho, colega meu dos tempos da escola. Sou escritor. Duas ou três vezes por semana, costumo visitar cidades do interior para falar sobre meus livros. Gosto muito de fazer isso. É um modo de a gente descobrir o quanto se é amado por pessoas que nunca viu na vida. Mas essas pequenas viagens também são boas porque, de vez em quando, acabo achando assunto para novas histórias. Como aconteceu quando me encontrei com o Toninho. Numa de minhas viagens, fui até Americana. Vivi nessa cidade dos catorze aos dezenove anos. Depois vim para São Paulo e não voltei mais para Americana. Acontece que toda minha família mudou-se de lá, e meus amigos dispersaram-se pelo mundo. De modo que eu não tinha mais nenhum laço com a cidade. Até que surgiu a oportunidade de voltar ao velho Colégio Presidente Kennedy, onde estudei, para fazer uma palestra. Para falar a verdade, nem me lembrava mais do Toninho. E se não fosse a filha desse meu amigo, eu teria ido embora de Americana sem falar com ele. E esta história que conto agora seria apenas uma lembrança do