Paganismo Piaga
Luiza de Albuquerque Leite Vieira*
Resumo:
Este artigo apresenta um projeto de pesquisa que, em seu estágio inicial, tem como objetivo analisar a mediação de parte do patrimônio cultural piauiense, especialmente a arte rupestre, em cultos dos “novos piagas”, grupo religioso pagão que atua em Teresina e em outras cidades do Piauí. A análise proposta baseia-se na utilização da metodologia da
Teoria Ator-Rede, de Bruno Latour e vem a somar-se a outros esforços de Antropologia da
Religião no campo conhecido como “estudos pagãos”.
Palavras-chave: patrimônio cultural; comunidade religiosa; paganismo
Introdução
Há pelo menos 12 mil anos AP (GUIDON, 1998:43), um conjunto de pessoas deixou rastros de seu modo de vida e de sua cosmologia, em paredões de pedra e rochas, nas terras hoje conhecidas como Piauí. Refiro-me às pinturas e gravuras rupestres que espalham-se pelo sertão e litoral do Estado. Os achados arqueológicos do Piauí são únicos no que diz respeito a seu estilo, sua quantidade, conservação e importância histórico-cultural. As artes rupestres são divididas em unidades estilísticas que foram denominadas tradições, que variam de estado para estado em relação a sua localização. No Piauí encontra-se a tradição Nordeste, a tradição Agreste e gravuras conhecidas como itaquatiaras. A tradição nordeste é marcada por representações naturalísticas, onde o homem, o animal e a flora aparecem bastante representados. Normalmente constituem composições de vários personagens em cenas dinâmicas de caça, jogo, luta, dança e sexo. Já a tradição Agreste, representada por figuras humanas e de animais, não parece ilustrar a vida quotidiana e ritualística, da forma como o faz a Tradição Nordeste. Por outro lado, inclui muitos grafismos geometrizantes abstratos, em especial o tipo carimbo. Os grafismos, muitas vezes, são pouco ou nada