Otite Média Aguda: Diagnóstico e Tratamento Propostos para a Realidade Brasileira
Moacyr Saffer
José Faibes Lubianca Neto
Berenice Dias Ramos
Jair Cortez Montovani
Manoel de Nóbrega
Lauro João Lobo de Alcântara
Maurício Miura
Sílvio Luís Marone
Núcleo gerencial do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia.
Endereço para correspondência: Moacyr Saffer. Rua Dona Laura, 320, 9º andar, Porto Alegre, RS, Brasil. CEP 90430-090.
Definição:
A otite média aguda (OMA) é definida como o surgimento rápido de sintomas locais e sistêmicos associados a sinais de inflamação aguda da orelha média, que pode ter etiologia viral ou bacteriana 1. Essa definição é ampla e permite interpretações discordantes, principalmente sobre quais sintomas e sinais realmente são discriminantes 2. A acurácia diagnóstica na OMA tem sido alvo de preocupação pelo fato dela ser a indicação mais comum de prescrição de antibióticos para crianças. O uso de antimicrobianos na OMA é uma das principais razões para o aumento da resistência bacteriana a antibióticos 3. Existem evidências de que a diminuição do uso de antimicrobianos na comunidade reduz a taxa de Streptococcus pneumoniae resistente à penicilina, reforçando a necessidade do diagnóstico preciso 4.
A maioria das células no nosso corpo não são humanas, mas microbianas: a taxa “deles” para “nós” é de cerca de 10:1 5. Desde que a resistência antimicrobiana é parte do instinto natural de sobrevivência de um organismo, a total erradicação é um objetivo inatingível. Entretanto, ela pode ser reduzida a um nível que não coloca em perigo a humanidade6.
O diagnóstico correto é essencial para evitar o uso desnecessário de medicação e também para evitar atrasos no tratamento dos casos verdadeiros de OMA. Uma grave conseqüência do uso de antimicrobianos sem a certeza diagnóstica é a tendência do médico, ao prescrever o antibiótico, deixar de investigar outras causas dos sintomas apresentados