Os lugares da enunciação (shifters) – vozes no enunciado da história em REPRODUÇÃO, de Bernardo Carvalho: a identidade e a diferença do significante no texto literário
2971 palavras
12 páginas
“Os lugares da enunciação (shifters) – vozes no enunciado da história em REPRODUÇÃO, de Bernardo Carvalho: a identidade e a diferença do significante no texto literário”- Oscar Nestarez
Introdução
Para que se elabore uma dissertação precisa e consistente sobre o tópico acima, identificando os indicativos que estabelecem os lugares, os espaços e as novas vozes na obra de Bernardo Carvalho, faz-se necessário, em caráter introdutório, estabelecer alguns conceitos acerca da composição literária na contemporaneidade. São conceitos-chave para que se compreendam outros mais complexos, que se manifestam como característicos das obras que se pretendem atuais, como é o caso dos shifters – e como é o caso particular do livro “Reprodução”.
Primeiramente, deve-se ter em mente a afirmação basilar de Walter Benjamin, segundo a qual, a partir do modernismo, não é mais possível que se realize uma leitura linear de obras, uma leitura simplificada. A enunciação moderna/contemporânea abdica de seu papel mimético – deixa de representar – para se apresentar fraturada, permeada por rupturas, o que implica em um deciframento necessário por parte dos leitores. E é nos cânions deflagrados por estas rupturas que opera outro importante advento da contemporaneidade, essencial em “Reprodução”: o narrador anônimo, cuja voz subjaz por estas lacunas da narrativa, e se esconde em outras vozes.
Outra particularidade da narrativa moderna/contemporânea é a obliteração de fronteiras antes (no realismo e no romantismo) muito definidas; um processo que se acentua com a retomada da voz corpórea, e com volta à cena da performance de leitura, como o definiu o teórico suíço Paul Zumthor. Segundo ele, a recuperação da voz na leitura foi estimulada por avanços tecnológicos como a TV, o rádio e, mais à frente, a internet, dispositivos que reproduzem a voz humana sem a presença de um corpo; é um advento que “responde a uma necessidade, tanto de ouvir quanto de conhecer. O corpo aí se