Os efeitos da crise global
MARIA CRISTINA PENIDO DE FREITAS
Introdução
FALÊNCIA
do banco de investimento Lehman Brothers no dia 15 de setembro de 2008 marca a transformação da crise financeira internacional, iniciada no mercado americano de hipotecas de alto risco em meados de
2007, em uma crise global sistêmica. De um lado, o aumento da aversão ao risco e de preferência absoluta pela liquidez nas principais economias avançadas desencadeou um movimento generalizado de fuga para a qualidade dos investidores globais e a virtual interrupção das linhas externas de crédito comercial, resultando na abrupta desvalorização das moedas de várias economias. De outro lado, a forte retração da atividade econômica das economias centrais associada ao movimento de desalavancagem do sistema financeiro e de deflação dos ativos se traduziu em menor dinamismo do comércio mundial.
O propósito deste artigo é discutir, com base no referencial teórico póskeynesiano, os impactos da crise internacional na economia brasileira, com ênfase na virtual paralisia do mercado de crédito bancário doméstico a partir de setembro de 2008. Os argumentos são construídos a partir de três hipóteses de interpretação. A primeira é que, no ciclo recente de crédito, a dinâmica concorrencial conduziu à emergência de práticas de alto risco no sistema bancário brasileiro, tais como os depósitos a prazo com liquidez diária e os empréstimos às empresas acoplados às operações de derivativos de dólar, cujo potencial desestabilizador veio à tona quando da reversão das expectativas ante o agravamento da crise financeira internacional e seus efeitos-contágio sobre as economias periféricas, dentre as quais o Brasil. Em outras palavras, a subestimação de riscos que caracteriza a atividade bancária na fase de auge potencializou os impactos da crise internacional na economia brasileira.
O excesso de prudência na fase de reversão é também