Organização social do brasil
Esta situação intermediária, ambígua da humilhação, fenômeno externo-interno, nos faz encontrar Marx atento às determinações econômicas e Freud atento às determinações puncionais. Equiparando noções marxistas e freudianas deparamos com a realidade da sociedade de classes, atravessada pela desigualdade política, participa de um círculo de mensagens enigmáticas e traumáticas.
A divisão política é um fato dos mais antigos. Influenciou a economia e a cultura, a tecnologia e as ciências, o trabalho e as artes, a arquitetura e a demografia, a religião e a filosofia, sedimentaram-se nas máquinas e nos livros, nas casas e na praça pública, nas oficinas e na cidade, na escola e nos hospitais, nos escritórios e nos presídios, nos restaurantes e nos teatros, assumiu o psiquismo e os mecanismos, a mentalidade e as instituições, o trabalho e os sonhos, a espontaneidade e os hábitos, as coisas e os símbolos, as imagens e as palavras como se tratando de um roteiro universal.
A desigualdade de classes dispara um tipo de angustia que os pobres conhecem muito bem e que, entre eles, inscreve-se no núcleo de sua submissão. Os pobres sofrem frequentemente o impacto dos maus tratos. Psicologicamente, sofrem o impacto de uma mensagem estranha, misteriosa: “vocês são inferiores”. E, o mais grave é que a mensagem passa a ser esperada, mesmo nas circunstâncias em que, para nós outros, observadores externos, não pareceria razoável esperá-la. Para os pobres, a humilhação ou é uma realidade em ato, ou é frequentemente sentida como uma realidade iminente, sempre a espreitar-lhes, onde quer que estejam, com quem quer que estejam. Movem-se e falam, quando falam, como seres que ninguém