Vila RicaO ouro fulvo do ocaso as velhas casas cobre;Sangram, em laivos de ouro, as minas, que a ambição.Na torturada entranha abriu da terra nobre:E cada cicatriz brilha como um brasão.O ângelus plange ao longe em doloroso dobre.O último ouro do sol morre na cerração.E, austero, amortalhando a urbe gloriosa e pobre,O crepúsculo cai como uma extrema-unção.Agora, paraalém do cerro, o céu parece.Feito de um ouro ancião que o tempo enegreceu...A neblina, roçando o chão, cicia, em prece,Como uma procissão espectral que se move...Dobra o sino... Soluça um versode Dirceu...Sobre o triste Ouro Preto o ouro dos astros chove.Analise do poema:• Ha varia figuras de linguagem, comparação, metáfora, metonímia, personifição, inversão etc. Além disso,há varias sugestões cromáticas relacionadas ao ouro (luz do sol e do ouro das minas) e ao negro (da noite, do passado e do próprio nome da cidade). É possível notar também as aposições existentes nopoema, que reforçam o contraste entre passado e presente, riqueza e pobreza, dia e noite, o passado glorioso e o presente humilde.• Trata-se, portanto, de um poema que consegue unir técnicas deconstrução a um rico conteúdo histórico - qualidades que nem sempre foram alcançadas pelos parnasianos. Assim, em Vila rica Bilac mostra a objetividade parnasiana evoluindo para uma postura maisintimista e subjetiva.• Na 1° estrofe do soneto, significa que o ouro encontrado era fruto do acaso, pois muitos o procuravam e não tinham a sorte de encontrá-lo. E que o fato acontecera numpassado distante em que o ouro era tão abundante, que foi amplamente utilizado, inclusive, para adorno de casas e igrejas, cuja ornamentação relembra o fausto religioso da opulenta Vila Rica.• A2° estrofe denota o choro do povo mais simples (da periferia) que se torna mais doloroso ao entardecer em virtude do término da extração do ouro, quando a cidade entra em declínio.