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459 palavras
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PARTE 1 Os tributos
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Quando eu acordo, o outro lado da cama está frio. Meus dedos se esticam, procurando o calor de Prim mas encontrando apenas a áspera lona que cobre o colchão. Ela deve ter tido sonhos ruins e subido com a nossa mãe. É claro que ela subiu. Esse é o dia da colheita.
Eu me apoio em um cotovelo. Há luz bastante no quarto para vê-las. Minha irmã pequena,
Prim, enroscada do seu lado, embrulhada no corpo da minha mãe, suas bochechas pressionadas juntas. No sono, minha mãe parece mais jovem, ainda que cansada mas não deprimida. A face de Prim é fresca como uma gota de chuva, tão linda quanto a prímula cujo nome a ela foi dado. Minha mãe era muito bonita antigamente, também. Ou assim me dizem.
Sentada aos joelhos de Prim, guardando-a, está o gato mais feio do mundo. Nariz amassado, metade de uma orelha faltando, olhos cor de suco apodrecido. Prim o nomeou Buttercup, insistindo que a pele amarela lamacenta dele combinava com uma flor brilhante. Ele me odeia.
Ou ao menos desconfia de mim. Mesmo que tenha sido há anos, eu acho que ele ainda se lembra de como eu tentei afogá-lo em um balde quando Prim o trouxe para casa. Gatinho magro, barriga inchada de lombrigas, rastejando com pulgas. A última coisa que eu precisava era outra boca para alimentar. Mas Prim implorou tanto, chorou até, que eu tive de deixá-lo ficar. Ficou ok. Minha mãe se livrou dos insetos e ele tornou-se um caçador de ratos. Ainda pega um rato ocasional. Às vezes, quando eu limpo uma caça, eu alimento as entranhas de
Buttercup.
Entranhas. Sem vaia. Esse é o mais próximo do que nós nunca chegaremos ao amor.
Eu balanço minhas pernas para fora da cama e deslizo dentro das minhas botas de caça. Couro flexível que foi moldado para o meu pé. Eu coloquei minhas calças, a camisa, enrolei minha longa trança escura dentro de um boné, e agarrei meu saco de forragem. Na mesa, em uma tigela de madeira para protegê-lo de ratos e gatos, está um