oi joana
O marxismo da III Internacional, já sob a hegemonia do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), parecia tratar o capitalismo como um sistema, mas tira consequências apenas políticas, concebendo um sistema de satélites em torno do sol, isto é, a aplicação rígida da interpretação soviética sobre o desenvolvimento do capitalismo transforma os partidos comunistas (PCs) no resto do mundo – sempre sob a denominação “do Brasil”, “da Índia”, “da China” etc. – em replicadores da “linha justa”, não concedendo nenhuma autonomia teórica às realidades fora do centro capitalista, o que teve consequências não banais do ponto de vista da tática e estratégia das revoluções nas periferias. Entre nós, apenas Caio Prado Jr. (1942) escapou dessa fossilização teórica, mas sem consequências sobre a direção política do partido (SECCO, 2008; RICUPERO, 2000) no Brasil. Na prática política, apenas o PC chinês levou adiante uma revolução que retoricamente obedecia a Moscou, mas, concretamente, seguiu uma tática e estratégia inteiramente em desacordo.
Aqui, pois, a contribuição de Raúl Prebisch está presente com sua formulação de “centro” e “periferia”, que Furtado incorpora inteiramente. Há, na verdade, um certo anacronismo na releitura da história brasileira por Furtado, porque na verdade o sistema colonial não estruturava um centro e periferias nas suas colônias, nem espacial nem setorialmente. O caso brasileiro é exemplar: para Furtado, o deslocamento que se produz é do antigo centro – o Nordeste açucareiro – para o Sudeste – que se industrializará. Mas a economia brasileira não constituía um “sistema”, nem sequer uma economia “nacional” propriamente dita, pois as explorações regionais estavam baseadas nas estratégias de exploração da metrópole portuguesa.
A própria transição, de que Minas será um elo importantíssimo na cadeia – já assinalado por Caio Prado Jr. – obedece à lógica da exploração mercantil, e não a um processo interno