Não quero falar sobre isso
Já passa da meia noite, a insônia é minha única companhia. Estou na parte dos fundos da casa, posso ouvir o ladrar choroso de cães ao longe e o vento é cortante...quem se importa? No frio o céu parece muito mais bonito; mais real; mais escuro. Ainda que more na cidade posso ver a trilha de leite no céu...sutil. Dos deuses.
No ponto mais alto vejo as manchinhas coloridas piscando, vermelhas, amarelas, azuis...a lua me abandonou...não foi a única, mas é bom, assim posso ver até as mais fracassadas estrelas...não sei muito sobre a ciência dos céus, mas posso reconhecer a constelação de Escorpião ao alto, suntuoso, insigne, venerável...Órion quase desaparecendo...só um ponto de vista. O que me traz esperança é saber que todas estão lá...bem longe daqui, abandonadas, irreconhecíveis, tanto quanto singulares...será que elas sabem que não estão totalmente sozinhas? Será que estão tristes? Esperança?
Me tranco no quarto. Me agasalho. Frio. Quero me entregar aos sonhos, mas os pesadelos querem bailar comigo. Fecho os olhos e vejo todos se afastando. Será que sou eu? Não, não pode ser. Eles disseram que nunca iriam embora. Sinto saudade dos abraços que nunca ganhei. Lembranças de você...justo você que nunca chegou perto de mim. Vejo todos se afastarem.
Alguns me prometeram ficar, outros nem viram meus olhares. Mas também tiveram mãos, me estenderam mãos que não pude segurar. AAAH!
Lembranças daqueles que nunca vi continuam me atormentando.
Não consigo ter um bom plano. Música não me acalma...me irrita, como pode Rod Stewart dizer que “As estrelas no céu não significam nada”?
Que elas são espelho?! Ooh! Não quero falar sobre isso. As lagrimas agora, como nunca, brotam destas janelas negras. Esse quarto escuro é minha sina, mas lhe peço, por favor, eu lhe peço, me tirem desse lago vermelho, me livrem desses olhos azuis...esqueçam esse maldito corte na vertical.