Me aproprio do título, que é o do livro de Fernando Vasconcelos, sem escrúpulos. Nós vivemos cercados por prazeres, desgostos, desditas, chororós etc. E dos prazeres, com exceção da comida, da bebida, do sexo, do bem-estar geral, temos o maior de todos, no meu entender. O prazer do intelecto, de ouvir alguém falar e entender, ouvir uma música e degustá-la nos seus acordes, ler um texto e entendê-lo nos mínimos meandros, interpretar o pensamento de quem se dirigiu a nós, decifradores de códigos que somos. Todo esse palavrório de introdução para dizer que estou feliz, ou melhor, sou um homem feliz porque tenho acesso à beleza de um texto. De um texto não, de 117 Crônicas Forenses – O dia a dia da Justiça. A pena mágica desse escritor paraibano me levou às crônicas de Rubem Braga, Fernando Sabino, José Lins do Rego, Stanislaw Ponte Preta, que eram publicadas nos jornais cariocas nas décadas de 1950/1960/1970. Meus filhos também liam essas publicações, porque ainda não havia televisão, e hoje os três escrevem como gente grande e conhecem a língua. Eu as devorava, como devorei este livro em comento. Enquanto lia, maquinava uma maneira de fazer com que meus alunos tomassem conhecimento dessa obra e a lessem como um adendo ao curso que estão realizando, o de Direito. Como o autor foi Promotor durante 30 anos e sempre viveu o mundo jurídico, mormente no interior do Estado, nos deixa ensinamentos basilares advindos dessa experiência, usando a veia humorística, em muitas crônicas, para nos deleitar e termos acessos de riso em algumas delas, como me aconteceu ontem. Tive que suspender a leitura por minutos quando li O coma ou a coma? Relembrando, todas elas têm a ver com um caso ligado à Justiça. Por isso Crônicas Forenses. É, portanto, um minicurso de Direito. É a prática do dia a dia, não a decoreba que infesta nossos cursos acadêmicos. Fernando, sou teu leitor de crachá.