Neuroses eTraumas

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A teoria freudiana do trauma

Este capítulo foi dividido em oito seções. A primeira seção apresenta o trauma tal como exposto nos primeiros trabalhos de Freud entre 1885 e 1897.
Logo em seguida, há cinco seções dedicadas às mudanças ocorridas na teoria freudiana após 1897: O trauma e a fantasia, As neuroses traumáticas e a guerra,
A teoria da angústia e o trauma, O supereu e o trauma e O período de latência e o efeito do trauma. Por fim, as duas últimas seções deste capítulo trarão uma

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abordagem mais contemporânea sobre a questão da violência como trauma.

1.1
O trauma nas primeiras teorias freudianas
Iniciando esta apresentação sobre a noção de trauma nas primeiras teorias freudianas, lembro ser de conhecimento geral a importância atribuída pelo próprio Freud às suas experiências com Jean-Martin Charcot, no hospital
Salpetrière, entre 1885 e 1886. Ao chegar a Paris, Freud queria estudar a anatomia do sistema nervoso; ao deixar o Salpetrière, seu interesse de pesquisa tinha se voltado aos problemas da histeria e do hipnotismo.
Conforme relatório de Freud sobre seus estudos em Paris e Berlim
(Freud, 1956 [1886]), Charcot interessou-se, desde muito cedo, quando ainda era um estudante no Salpetrière, pelas doenças nervosas crônicas. No entanto, ao chegar no Salpetrière em 1885, Freud pôde constatar que Charcot havia se afastado do estudo das doenças orgânicas, e encerrado seu trabalho da anatomia do sistema nervoso. Segundo Freud, o que precisava ser estudado, para Charcot, eram as neuroses, particularmente as neuroses histéricas, que acometiam tanto homens quanto mulheres.
Freud assinala que, até 1886, dificilmente a histeria era considerada uma palavra com significado bem definido. A histeria caracterizava-se, naquela época, somente por “sinais negativos” (Freud, 1990 [1956 [1886] ], p. 48): a doença histérica dependia de irritação genital, nenhuma sintomatologia definida podia ser

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