NARRATIVAS ORAIS SOBRE O BOTO: UM PROCESSO DE CONSTRUÇÃO SÓCIO-CULTURAL DO IMAGINÁRIO AMAZÔNICO.
CAPÍTULO I
NARRATIVAS ORAIS: CONTEXTO HISTÓRICO.
Desde que o homem nasce sua necessidade de comunicação se revela a partir de seu desenvolvimento social, por meio da fala e da escrita interage com os demais, permitindo formas diferenciadas de conceber a comunicação. MeGarry (1999) chama a atenção para essa interatividade do homem com a sociedade, observa que o ser humano comunica-se com o mundo por meio de regras adquiridas da cultura que,por sua vez, estão relacionadas com as crenças,habilidades,costumes,artes,moral e qualquer aptidão física ou intelectual decorrente do convívio social.
Oficialmente a história tem seu reconhecimento a partir da escrita, que com sua sublimação tem gerado uma série de crenças e fundado uma realidade limitada, cruel e castradora: ”Não existe vida, nem história, nem literatura, nem ciência, se não há papel (...).” (Le Goff, 1992:548). A memória passa então a ser algo palpável e consumível.
“(...) Vivemos imersos na escrita, tendemos a julgar difícil imaginar que os discursos extensos, especialmente os feitos no passado, possam ser citados e preservados sem o auxílio da escrita. Mas é possível (...) as tradições orais e conhecimento especializado podem ser preservados e transmitidos sem os recursos arquivísticos de que dispomos atualmente.”(Olson,1997:114).
Nesse sentido é importante compreender que a memorização, tempo mítico, exige estratégias. As parábolas, os contos, os mitos, os ritos, as fábulas fazem parte desse conjunto de estratégias, que através de símbolos e imagens, transmitem, de geração em geração as idéias, a organização e a realidade de um povo, comunidade ou região em tempos e espaços diferentes. Desde os séculos passados a oralidade era utilizada como importante instrumento no repasse dessa cultura, pois foi de forma oral que a maioria dos conhecimentos foi transmitida e perpetuada em meio a