Na m o de deus
Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita. Como as flores mortais, com que se enfeita A ignorância infantil, despojo vão,
Depois do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.
Como criança, em lôbrega jornada,
Que a mãe leva ao colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,
Selvas, mares, areias do deserto...
Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!
Antero Tarquínio de Quental
Ponta Delgada, 18 de abril de 1842 Ponta Delgada, 11 de setembro de 1891
Nascido na Ilha de São Miguel, Açores, filho do combatente liberal
Fernando de Quental (Solar do Ramalho do qual mandou tirar a pedra de armas da família -, 10 de maio de 1814 - Ponta
Delgada, Matriz, 7 de março de 1873) e de sua mulher Ana Guilhermina da Maia (
Setúbal, 16 de julho de 1811 - Lisboa, 28 de novembro de 1876), durante a sua vida, Antero de Quental dedicou-se à poesia, à filosofia e à política.
Em 1861, publicou seus primeiros sonetos.
Quatro anos depois, publicou as Odes
Modernas, influenciadas pelo socialismo experimental de Proudhon, enaltecendo a revolução.
Ainda em 1866 foi viver em Lisboa, onde experimentou a vida de operário, trabalhando como tipógrafo, profissão que exerceu também em Paris, entre janeiro e fevereiro de 1867.
Em 1868 regressou a Lisboa, onde formou o
Cenáculo, de que fizeram parte, entre outros,
Eça de Queirós, Abílio de Guerra Junqueiro e
Ramalho Ortigão.
Foi um dos fundadores do
Partido Socialista Português.
Em 1869, fundou o jornal A República, com
Oliveira Martins.
Em 1871, encontramo-lo a reunir-se em
Lisboa com delegados da
Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) para apresentar as ideias anarquistas2 .
Ele, juntamente com José Fontana, em 1872, passou a editar a revista O Pensamento
Social.
Sonetos de Antero, 1861