Na Rua No Bar No Copo
O Rio de Janeiro tem alma e desta emana um carisma típico da cidade. Além da paisagem montanhosa exuberante, o Rio possui uma população peculiar, e os diversos jeitos de ser dos cariocas parecem estar tão ligados ao espaço urbano como as montanhas estão para o mar. Os cariocas elaboram seus jeitos de ser no espaço público porque no Rio a rua é mais que uma transição entre espaços privados; ela pode ser um espaço de encontro, por vezes mesmo acolhedor. A rua serve não meramente como passagem, mas um espaço onde redes de relações sociais e valores coletivos são tecidos de tal forma que o espaço da rua se confunde com a própria ordem social. (DaMatta, 1985) Assim, para muitos cariocas a rua é mais do que simples espaço geográfico; é uma esfera de ação social, capaz de despertar emoções e também ações práticas que podem compreender ocupações espontâneas e também vinculações emocionais a determinados lugares e paisagens. Pode ser na praia, no churrasco de esquina, na cerveja do boteco; o importante é a combinação que a rua proporciona de visibilidade, imprevisibilidade e reunião.
Para Roberto DaMatta (1985), a rua é geralmente desagregador, onde o indivíduo perde sua voz, sua expressão e o perigo anda sempre a espreita. Na rua seríamos indivíduos anônimos, oprimidos pelas leis públicas e, por consequência, reagiríamos de forma negativa, seja no trânsito, no trato com os transeuntes ou no cuidado do espaço público. Se em grande parte esse comportamento negativo se revela na prática como verdadeiro, isso não minimiza o caráter agregador de muitos espaços e ruas cariocas. Como bem DaMatta ressalta, são poucos os trabalhos investigativos capazes de conciliar as tão batidas e massacradas binaridades antropológicas e que salientem o que há no entre, no conectivo que liga o que é aparentemente oposto. Em nosso trabalho percebemos que o espaço paradoxal das ruas comporta tanto o trânsito de indivíduos