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Profa. Dra. E. Jean Langdon
UFSC
Agradeço a oportunidade de participar mais uma vez num curso da Escola Paulista de Medicina com a temática de saúde indígena. Ao largo dos anos o Professor Baruzzi e sua equipe vêm realizando seminários de antropologia médica com o objetivo de orientar profissionais trabalhando com a saúde do índio. Em parte, os cursos têm se dedicado à problemática de como "atender ou tratar o índio" nos diversos contextos em que se encontram: nas regiões isoladas aonde o impacto do contato com a sociedade envolvente vem trazendo várias epidemias devastadoras; nas regiões com uma história de contato contínuo resultando numa degeneração geral das condições sanitárias; e finalmente nas áreas urbanas onde casos sérios de doença são tratados nos hospitais ou nas casas do índio. Podemos dizer que estas preocupações ficam dentro de questões epidemiológicas ou de prestações de serviços, onde o papel do antropólogo seria de ajudar, mediar e traduzir o encontro de membros de culturas diferentes.
Porém, nos últimos anos tenho observado um esforço destes cursos para abrir um espaço de diálogo entre antropologia e medicina. Neste espírito de dialogar, quero abordar hoje alguns conceitos mais atuais circulando entre os antropólogos trabalhando na área de saúde. Repensando a relação saúde/cultura, há uma proposta de um modelo alternativo ao da biomedicina.2[2] A biomedicina é relativizada, vista como um modelo médico entre vários outros modelos, seja este dos chineses, hindu, ou índios. O enfoque principal da biomedicina, em seu sensu strito, é a biologia humana, a fisiologia ou a patofisiologia, onde a doença é vista como um processo biológico universal. As novas discussões em antropologia questionam a dicotomia cartesiana presente no modelo biomédico e concebem saúde e doença como processos psicobiológicos e sócioculturais. Nesta abordagem a doença não é visto