MUSICA DE CÂMARA
A partir do início do século XX começaram a surgir obras que colocam a voz em formações de câmara, atuando independente de um apoio harmônico e totalmente inserida no contexto camerístico.
A música de câmara vocal do século XX trouxe modificações estéticas, que redundam em novas abordagens interpretativas, exigindo do cantor uma reciclagem técnica, a fim de interpretá-la. Elementos como voz recitada, sons onomatopaicos, situações cênicas, sprechgesang, e impostação não tradicional (voz nasal, voz gutural), entre outros, trazem para o cantor a necessidade de rever os conceitos da técnica tradicional.
Heloísa Valente, em seu livro “Os cantos da voz”, comenta este fenômeno:
A música do século XX, pelo que mostram as mais diversas obras conhecidas, necessitam do virtuosismo técnico; em alguns aspectos, até mais que em épocas anteriores. A diferença reside no fato de que os referenciais estéticos não são mais os mesmos. A voz do século XX rompeu com o legato, o som redondo, valores inalienáveis do bel canto. Em contrapartida, incorporou sons vocálicos outrora banidos do universo da arte (soluço, sussurro, tosse etc.); ou, dito de outro modo, agregou o ruído. (Valente, 1999. p. 132
No Brasil a primeira obra de câmara que encontramos escrita para voz e outros instrumentos (sem piano) é “Poema da criança e sua mamã” de H. Villa-Lobos, datada de 1923, para voz, flauta, clarineta e violoncelo. Autor de centenas de canções no tradicional formato voz e piano, Villa-Lobos nesta obra trata a voz de maneira diferenciada, como participante de um quarteto instrumental. Do mesmo ano, “Suíte” para voz e violino coloca para a voz o desafio de atuar em duo não acompanhado com apenas um instrumento melódico. Depois de Villa-Lobos, vários outros compositores brasileiros escreveram obras para voz em formações camerísticas sem piano. Encontramos exemplos na produção de José Siqueira, Camargo Guarnieri, Osvaldo Lacerda, Kilza