Mudan A De Nome Dos Orgaos E Ossos
Foi há dez anos. E tanto eu como o Falópio ainda não nos acostumamos
Ruy Castro*
Foi há exatamente dez anos. De repente, médicos de 16 países reuniram-se em São Paulo e anunciaram que, depois de insanos estudos, seis mil partes do corpo humano tinham sido rebatizadas com novos nomes oficiais. E o resultado é que nunca mais tivemos dor de ouvido. Só dor de orelhas.
Eles descobriram que, por uma série de motivos – não me pergunte quais –, muitos dos nomes antigos já não serviam. E foram bem claros: só os nomes estavam mudando, mas as funções continuavam as mesmas. Ah, bom! A velha orelha, portanto, continuava a ser orelha, própria para levar um puxão ou carregar um brinco, mas teria de ser chamada de orelha externa. E o ouvido, subitamente evaporado dos dicionários médicos, passava a ser a orelha interna. Outro que dançou nessa revolução da nomenclatura foi o cotovelo que, coitado, foi rebatizado como cúbito. Donde, no caso de alguma namorada o ter mandado passear nos últimos dez anos, você não teve dor-de-cotovelo, mas dor-de-cúbito. Só que, em alguns casos de mudança de nome, os cientistas tiveram de fazer um ajuste, e este foi um deles – porque já havia no braço um osso chamado cúbito. Pois deixou de chamar-se. O antigo cúbito passou a chamar-se ulna, a fim de liberar espaço para o novo cúbito que aposentou o cotovelo.
E lembra-se do perônio, aquele osso que os jogadores de futebol costumavam fraturar junto com a tíbia? Passou a chamar-se fíbula. Donde, desde então, tivemos exclusivamente fraturas da fíbula e da tíbia. Se você soube de algum jogador que fraturou o perônio nesse período, só pode ter sido algum veterano desinformado atuando num time de masters e, mesmo assim, maior de 40 anos.
Quanto ao bravo aparelho digestivo – aquele que você sempre obrigou a processar os mais pesados torpedos nos fins-de-semana e ele nunca lhe faltou –, também mudou de nome. Tornou-se o sistema digestório que, não sei por quê, me