Meurice Merlau
1536 palavras
7 páginas
Sobre o Olhar – A percepção fenomenológica em Merleau-Ponty ____________________________________________________________________________
Anna Rita Ferreira de Araújo*
O que vemos só vale – só vive – em nossos olhos pelo que nos olha.
(Didi-Huberman)
O movimento do olhar é o que situa o ser no mundo. É o movimento sensível que celebra a existência humana. O indivíduo não escolhe olhar, ele simplesmente olha e é olhado. As relações que se estabelecem seguidas deste olhar é que passam pelas escolhas. Primeiro eu olho, para depois decidir se fecho os olhos ou se os abro mais, se desvio ou se vou de encontro, ou até se fico meio lá, meio cá. Certo é que, uma vez estabelecido o olhar, o resultado desta ação permanece em algum lugar. Registro visível e invisível atado-marcado ao corpo. Na concepção fenomenológica que proponho discutir, ao olharmos o fenômeno com intenção, provocamos a emersão não só das visibilidades como das invisivilidades. Este movimento é um caminho, um possível caminho para a compreensão do outro, do eu e do mundo.
Mas quantas vezes realmente nos damos conta de que conhecemos através do olhar? Quantas vezes não deixamos passar desapercebidas coisas, pessoas e situações? Quantas vezes apenas passamos nossos olhos pelas coisas do mundo sem que as olhemos com atenção e intenção? Tudo está para ser olhado, não importa o modo como olhemos e nem com o quê: olhos orgânicos, olhos da alma, olhos do corpo, olhos tecnológicos. Porém, neste mundo contemporâneo, as imagens são tão excessivas e rápidas, que na realidade não temos como olhá-las com o olhar reflexivo-sensível. Olhamos apenas com o olho físico, janela que capta estímulos. O excesso e a velocidade provocam este mecanicismo, esta superficialidade do olhar. Acabamos por não perceber mais o mundo e nós mesmos. Falta-nos o tempo e o espaço para olhar as coisas; e olhar, em primeira instância, é perceber. Precisamos da percepção para desenvolver nossas capacidades humanas. É com ela que