“MEA CULPA”, de Doca Street: uma história biográfica ou uma biografia literária?

Curso de pós-graduação em Letras
Universidade Presbiteriana Mackenzie

O discurso literário e o discurso histórico: perspectivas dialógicas

Professora Doutora Ana Lúcia Trevisan Pelegrino

“Mea culpa”, de Doca Street: uma história biográfica ou uma biografia literária?

Marco Antonio Marcondes Pereira

Introdução. História e literatura. Biografia e autobiografia. O caso Doca Street. A estrutura da obra Mea Culpa.

Introdução

Os fatos relacionados com o amor são sempre marcantes e deixam rastros indestrutíveis nos amantes que, na maior parte das vezes, só dividem as sensações vividas e sofridas com parcial fidelidade com confidentes mais próximos, não necessariamente amigos. Essas marcas ficam à deriva e longe do conhecimento de todas as outras pessoas; quando muito os vizinhos saboreiam eventuais trechos ininteligíveis de atos de amor e ódio deixados pelos amantes nas paredes de aposentos contíguos, ou os passantes de lugar público olham sem entender os gestuais de um relacionamento ciumento num local público, desordenado de razão e urbanidade social. As ilações aqui sobrepujam a verdade do evento, sem muita repercussão no dia-a-dia, mas ganham a força de verdade absoluta que pode modificar a vida inteira dos envolvidos se a força daquela mesma paixão aporta no cais do descontrole e transforma-se num fato criminoso. O amor e o ódio agora serão públicos, as versões se construirão a partir de todos os envolvidos na cena criminosa e dos atores responsáveis de apuração do delito.

“Mea culpa” traz a versão dos fatos de um crime passional pelo próprio homicida, Raul Fernando do Amaral Street [Doca Street], mas também busca apresentar o sofrimento do autor do delito durante o processo judicial e no tempo em que esteve cumprindo pena carcerária. É também uma narrativa acerca do sistema carcerário brasileiro nos anos 70 e 80 do século XX, no Brasil. Apresenta-se como biografia, logo, fundado na narrativa