Mato eles
Após 30 anos de lançamento o média metragem MATO ELES? , do paranaense Sergio Bianchi ainda carrega o mesmo teor denunciatório que foi proposto na década de 80. Apesar de que, filmar índios naquela época era tão comum quanto extermina-los, Bianchi dirigiu de forma brilhante os 34 minutos do documentário assumindo uma postura diferente, deixando de lado a propaganda que se fazia da figura indígena, afinal a proposta era exatamente contrária a de explorar a figura desses povos. Com uma narrativa não linear, Bianchi prende bem a atenção daqueles que comungam do mesmo tom crítico contido em cada cena. Cada história contada pelos personagens são tão intrínsecas que parecem cenas de teatro, parece algo combinado. Em determinados momentos não da pra saber se é totalmente ficção ou um misto de verdade e ficção. Levando em conta o momento vivido pelo Brasil no ano de 1982, é correto afirmar que o documentário foi produzido especificamente para incomodar. Mas, depois de passado tanto tempo pode ser afirmado também que, de lá pra cá nada mudou, afinal hoje não vivemos em uma ditadura explícita, nossos documentários não são censurados e os nossos índios continuam morrendo da mesma forma. As perguntas deixadas propositalmente nas cenas pelo diretor fazem a vez dos que foram e até hoje são calados por forças maiores e mais organizadas que os índios. Órgãos como a FUNAI são desmascarados através dos depoimentos dos próprios funcionários do governo. A linguagem, os personagens escolhidos para falar retratam a ironia que tudo aquilo representa. No caso da serraria instalada no meio da floresta pela FUNAI fica evidente o quanto o país desde aquela época não está preparado para cuidar do seu povo e suas culturas. “É como o pai que prejudica, que usa o que os filhos tem”, foi assim que um branco, ex-funcionário da serraria descreveu o que a FUNAI fazia com os índios naquela época. É um embate de depoimentos,