MARQUES Luiz - Idéias para um capítulo sobre o Anticlericalismo no Brasil (2009)
Luiz Carlos Luz MARQUES
O anticlericalismo na sociedade brasileira tem raízes antigas, que têm a ver com o enlace entre poder político e poder clerical, que se tornou corrente com a era constantiniana.
No caso do Brasil, esse enlace agravou-se com o Padroado régio e com a existência da “Inquisição”, em que pensar diferente, do ponto de visto, religioso, político ou religioso podia implicar em desastres pessoais, familiares e inclusive coletivos, como no caso dos judeus e do seu batismo forçado e da eterna suspeita que continuou pairando de serem “judaizantes”.
Para o período colonial, um bom exemplo é o de Gregório de Matos Guerra, o “Boca do inferno”, que foi perseguido pela Inquisição e exilado para Angola. Veja-se a fina ironia de muitos dos seus poemas “anticlericais”.
Outra onda anticlerical, ainda no tempo do Brasil colônia veio na esteira de Pombal e do iluminismo. Às luzes do liberalismo se contrapunham as “trevas”, propaladas pelo clero e pela religião. Essa é um vertente que persiste até hoje, mas que chegou a amainar nas lutas pela independência, por conta do forte envolvimento dos padres “ilustrados” em todas elas: na Inconfidência mineira, na Revolução de 1817 de Pernambuco (Pe. Miguelinho, Pe. Roma) e mais tarde Frei Caneca, com a Constituinte, e Pe. Feijó, com a revolução liberal de 1842.
O sentimento anticlerical fortaleceu-se com o Syllabus e o Vaticano I, tanto em sua versão mais “política” (Rui Barbosa), quanto “social” (nas lutas contra o regime escravista, com Castro Alves e Nabuco), e “científica” (com os que entraram na corrente positivista). Rui Barbosa traduziu para o português a obra do historiador Döllinger (um dos fundadores do Vétero-católicos) “O Papa e o Concílio”, precedida de ampla introdução (1877).
A Maçonaria aglutinou este tipo de anticlericalismo, com a pregação liberal-republicana (igreja livre no estado livre).
O período da questão religiosa abriu