Lolita Pille Hell Paris 75016
Eu sou uma putinha. Daquelas mais insuportáveis, da pior espécie; uma sacana do 16ème, o melhor bairro de Paris, e me visto melhor que a sua mulher, ou a sua mãe. Se você trabalha num lugar ―metido‖, ou é vendedora numa butique de luxo, com toda certeza gostaria que eu morresse; eu e todas as minhas iguais. Mas a gente não mata a galinha dos ovos de ouro. De forma que a minha espécie irá perdurar e proliferar...
Sou o símbolo manifesto da persistência do esquema marxista, a
encarnação
dos
privilégios,
os
eflúvios
inebriantes do Capitalismo.
Como digna herdeira de gerações de mulheres da sociedade, passo muito tempo na boa vida cobrindo de esmalte as minhas unhas; folgada tomando banho de sol; com a bunda sentada numa poltrona com a cabeça entregue às mãos de Alexandre Zouari, ou olhando vitrines na rue du
Faubourg-Saint-Honoré, enquanto vocês passam o tempo todo trabalhando para pagar as porcariazinhas que precisam.
Sou o mais belo produto da geração Think Pink: meu credo: seja bela e consumista.
Mergulhada na loucura policefálica das tentações ostentatórias, sou a musa da deusa Aparência, em cujo altar imolo alegremente todo mês o equivalente ao que você recebe como salário.
Um dia, vou detonar meu visual.
Sou francesa e parisiense estou me lixando para o resto; pertenço a uma única comunidade, a mui cosmopolita e controversa tribo Gucci Prada – a grife é meu distintivo.
Sou um pouquinho caricatural. Confesse que você me acha uma tremenda babacona com meu visual Gucci, o sorriso branco de louça de banheiro e os cílios e borboleta.
Mas é engano seu me subestimar, essas são armas ameaçadoras e é graças a elas que vou descolar mais tarde um marido que seja pelo menos tão rico quanto papai, condição sine qua non desta minha existência tão deliciosa e exclusivamente fútil. Visto que trabalhar não faz parte da longa lista de meus talentos. Quero me divertir com eles, e basta. Da mesma forma que mamãe e vovó antes de mim.
Uma