Livro: Sobre a Televisão seguido de A influência do jornalismo e Os jogos Olímpicos
De Pierre Bourdieu
Aceitar participar de um programa de televisão sem se preocupar em saber se poderá dizer alguma coisa, revela-se muito claramente que não se está ali para dizer alguma coisa, mas por razões bem outras, sobretudo para se fazer ver e ser visto. " Ser, dizia Berkeley, é ser percebido." Para alguns de nossos filósofos, ser é ser percebido na televisão, isto é definitivamente, ser percebido pelos jornalistas, ser, como se diz, bem-visto pelos jornalistas, e é bem verdade verdade que, não podendo se fiar muito em sua obra para existir com continuidade, eles não têm outro recurso senão aparecer tão freqüentemente quanto possível no vídeo, escrever, portanto, a intervalos regulares, e tão breves quanto possível, obras que, como observava Gilles Deleuze, têm por função principal assegurar-lhes convites na televisão. Foi assim que a rela de televisão se tornou hoje uma espécie de espelho de Narciso, um lugar de exibição narcísica.
Com a televisão, estamos diante de um instrumento que, teoricamente, possibilita atingir todo mundo. Daí certo número de questões prévias: o que tenho a dizer está destinado a atingir todo mundo? Estou disposto a fazer de modo que meu discurso, por sua forma, possa ser entendido por todo mundo? Será que ele merece ser entendido por todo mundo? Pode-se mesmo ir mais longe: ele deve ser entendido por todo mundo?
O acesso a televisão tem como contrapartida uma formidável censura, uma perda de autonomia ligada, entre outras coisas, ao fato de que o assunto é imposto, de que as condições da comunicação são impostas e, sobretudo, de que a limitação do tempo impõe ao discurso restrições tais que é pouco provável que alguma coisa possa ser dita. Dessa censura que se exerce sobre os condados, mas também sobre os jornalistas que contribuem para sua existência, espera-se que eu diga que é política. É verdade que há intervenções políticas, um controle