livro do chaves em PDF chespirito
21186 palavras
85 páginas
ROBERTO GÓMEZ BOLADOSTradução Fabiana Camargo
Prefácio
Por Roberto Gómez Bolanos
Suas calças folgadas tinham mais retalhos e remendos do que tecido original. Eram precariamente presas por duas tiras de tecido que funcionavam como suspensórios, atravessadas sobre uma camiseta velha e desbotada, na qual também predominavam retalhos e remendos. Calçava botas de peão, que evidentemente tinham sido de um adulto. Porém, o mais característico de suas roupas era o velho gorro com tapa-orelhas, que em dias frios não deveria ter sido de pouca utilidade, mas que, quando o conheci, em pleno verão, não fazia mais que acentuar o grotesco de sua figura.
- Graxa, senhor? - perguntou ele, mostrando a caixinha de engraxate. E estive a ponto de responder que não, já que meus sapatos estavam em muito bom estado, mas de repente me veio um pressentimento, essa coisa que nos faz tomar decisões
sem
nenhuma
razão
óbvia.
Sendo
assim,
respondi
afirmativamente.
Eu estava sentado num desses lindos bancos de ferro fundido trabalhado que ainda existem em alguns parques da cidade. Ele se acomodou no banquinho portátil que fazia parte de seu equipamento de trabalho e começou a realizar sua tarefa com um entusiasmo incomum. Então o observei com mais atenção e, nesse instante, compreendi qual havia sido a razão do meu pressentimento: aquele menino era a perfeita encarnação da ternura.
Deu muito trabalho iniciar uma conversa com ele, porque era óbvio que minhas perguntas provocavam o receio natural de quem está acostumado a receber muito pouco - quase nada, eu diria - dos outros.
- Como você se chama? — perguntei.
- Dá no mesmo, não?
- ... O que é que dá no mesmo?
- Dá no mesmo como eu me chame, mas, se quer saber, todos me chamam de Chaves.
- Quantos anos você tem? - continuei.
- Minha idade são os anos que eu tenho.
- Então, quantos anos você tem?
- Oito, acho...
- Onde você nasceu?
- Não posso me lembrar, porque eu era muito