literatura unioeste
À instabilidade das cousas do mundo
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol e na luz, falta a firmeza,
Na formosura não se crê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
A jesus crucificado estando o poeta para morrer
Meu Deus, que estais pendente de um madeiro, em cuja lei protesto de viver, em cuja santa lei hei de morrer animoso, constante, firme e inteiro:
neste lance, por ser o derradeiro, pois vejo a minha vida anoitecer, é, meu jesus, a hora de se ver a brandura de um pai, manso cordeiro.
Mui grande é o vosso amor e o meu delito, porém pode ter fim todo o pecar, e não o vosso amor que é infinito.
Esta razão me obriga a confiar, que, por mais que pequei, neste conflito espero em vosso amor me salvar.
Aos caramurus da Bahia
Um calção de pindoba à meia zorra
Camisa de urucu, mantéu de arara,
Em lugar de cotó arco e taquara
Penacho de guarás em vez de gorra.
Furado o beiço, e sem temor que morra
O pai, que lho envasou cuma titara
Porém a Mãe a pedra lhe aplicara
Por reprimir-lhe o sangue que não corra.
Alarve sem razão, bruto sem fé,
Sem mais leis que a do gosto, quando erra
De Paiaiá tornou-se em abaité.
Não sei onde acabou, ou em que guerra:
Só sei que deste Adão de Massapé
Procedem os fidalgos desta terra.
TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA
Lira XV – 2P
Eu, Marília, não fui nenhum Vaqueiro,
Fui honrado Pastor da tua aldeia;
Vestia finas lãs, e tinha sempre
A minha choça do preciso cheia.
Tiraram-me o casal, e o manso gado,
Nem tenho, a que me encoste,