LIRA DOS 20 anos - contexto historico
Álvares de Azevedo viveu e escreveu – o que, no seu caso, parecia ser a mesma coisa – em meados do século XIX. O Rio de Janeiro era a capital brasileira, tanto no plano político quanto no cultural. Mas a cidade de São Paulo, transformada em centro estudantil por causa da Faculdade de Direito, aos poucos assumia a posição de polo inovador, como demonstra a segunda geração romântica brasileira, a que pertencia o poeta. O período de maior vigor da estética romântica corresponde à primeira metade do século XIX, época em que a civilização ocidental vive profundas contradições, grande parte delas trazida pela Revolução Industrial e pelo aumento de complexidade social determinado por ela. Assim, a estética romântica vai expressar os sentimentos dos descontentes com as novas estruturas: a nobreza, que já caiu, e a burguesia, que ainda não subiu. Resultam daí as atitudes saudosistas ou reivindicatórias que pontuam todo o movimento. A Europa vivenciava grandes mudanças já desde a segunda metade do século XVIII. Entre elas, cabe destacar a crise das monarquias nacionais absolutistas e a Revolução Francesa, com a disseminação dos seus ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Assiste-se também ao surgimento do Liberalismo em política, moral, economia e arte e a uma nova escala de valores em que predomina o interesse pelo enriquecimento. Tantas transformações históricas, sociais e culturais exigem a compreensão global do complexo romântico, para que se possam entender os vários níveis de abordagem do movimento e sua riqueza de motivos e temas: o amor, a saudade, a dor, a infância, a pátria, a natureza, a religião, o passado são apenas alguns dos principais. O Brasil também vive uma fase peculiar; a vinda da família real, em 1808 — e sua permanência na colônia até 1821 — determinaria profundas mudanças e marcantes ocorrências políticas e sociais, entre as quais se destacam:
Num primeiro momento: a abertura dos portos;