LINDO
Parei de desenhar palavras na cabeça depois de cinco anos.
Parei de usar óculos coloridos de mosca depois de quatro anos.
Eu me escondia na extravagância, me ocultava com o exagero.
Ninguém falaria direto de minha feiura porque enxergaria primeiro as unhas pintadas, em seguida os cabelos estranhos, logo mais os óculos coloridos. O excesso de informação me salvaria do deboche.
Matava os olhos alheios pelo cansaço.
Atravessei minha vida distraindo o interlocutor com acessórios e disfarces. Ele não me via, ele me perdia com tanta coisa para olhar.
Se não havia jeito de anular o julgamento, complicaria o veredicto. Realmente me protegia do desaforo na irreverência. Era uma tática de guerra contra o bullying.
Como não tinha como não chamar atenção, busquei dominá-la, direcionar o alvo.
No fundo, jamais resolvi minha timidez, apenas criei um personagem para mediar os conflitos. Carpinejar foi meu amigo imaginário, Fabrício não passava de um menino encabulado vestindo as fantasias coloridas do escritor.
Mas cansei, não quero mais lutar contra a aparência, não pretendo mais combater nada nem ninguém.
Não é desistência, é aceitação de como sou. É serenidade. É sabedoria da precariedade.
Desejo a simplicidade, atrair o respeito tão somente pela voz e pelas ideias.
A alegria será a minha única loucura, o amor será meu único escândalo, a amizade será a minha mais veemente alegoria.
É óbvio que Juliana está sendo culpada pela transformação. Sempre a mulher do sujeito é dita como a responsável pela metamorfose. Como se o homem carecesse de personalidade para assumir suas escolhas.
Mas ela não fez nenhum pedido. Não interferiu em absolutamente coisa alguma. Jamais criou um pré-requisito ou estabeleceu uma condição para permanecermos juntos.
Sua existência é que me modificou. A partir dela, não preciso mais mentir, ocultar, distorcer, fingir, omitir, trapacear, exagerar.
Não tenho o