Leonardoschopf
648 palavras
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A BARATAEsperava com ansiedade a vida bater à porta. Vivia, como que docemente o abismo a levasse para dentro de si. Era vida. Mas por fora não se entusiasmava com as constantes risadas dos pobres de espírito. Ou com as cantadas que levava e com os homens que penetravam sua cama.
Nesta penumbra, homens e mulheres explodiam em vitalidade, estilo, malícia e interagiam uns com os outros. Sua interação era com a força oculta de cada ser que se esconde em cada movimento. Talvez fosse sombria demais com suas análises psicológicas. Gostava de descobrir as fraquezas das pessoas, assim sentia- se mais forte. E sendo forte demais, os seres arquetipificavam sua existência, considerando- a fraca para o mundo. Nem mesmo sabia se era macho ou fêmea. E nunca saberia decodificar sua alma, este limbo de incompreensão e mistério de si mesmo, em que carregava os medos, os defeitos, os desejos latentes. Esta alma que sustenta a carne humana antropofágica.
Caminhava um certo dia na rua procurando a liberdade. E sentando no banco deparou- se com uma barata, que apenas movimentava suas antenas. Qual seria o seu sexo? O inseto era definido por ser nojento, cuspido pela miséria. Mas ali observava um ser inofensivo. Os animais de outra espécie pisoteavam- na. Porém, havia uma surpresa que a intrigava. A barata não morria. Suas antenas mexiam- se como que se gritasse de dor. As pessoas passavam apressadas e efusivas e nem sequer a viam. E sem querer deixavam marcas. E nem mesmo elas sabiam disso. E a vida de cada um seguia sua jornada. Uns com as solas sujas de brutalidade, outros de ingenuidade. A ciência explica que a barata é capaz de sobreviver a um nível de radiação 10 vezes maior a que os humanos poderiam suportar e capaz de sobreviver sem a cabeça cerca de dez dias. Então como poderia ser fraca? Por mais que dedetizassem um milhão de baratas, algumas delas seriam suficientes para criar mais um milhão de novas baratas perambulando por ruas e casas.
Esta alma dividida em vários