João Cabral de Melo Neto
Num período demarcado por transformações políticas e sociais, manifestadas em plena fase pós-guerra (Segunda Guerra Mundial), o universo literário não ficou a mercê desses acontecimentos: ele também passou por uma revolução. Instituía-se, assim, uma literatura muito mais voltada para a forma, propriamente dita, do que para o conteúdo. Entrava em cena a fase do poema-objeto, do poema-palavra, sobretudo, e enfaticamente, valorizando a concretude das coisas. Referimo-nos, pois, à chamada geração de 1945, na qual um de seus maiores representantes foi João Cabral de Melo Neto, o poeta engenheiro.
Nascido no dia 09 de janeiro de 1920, em Recife, passou a infância nos engenhos de açúcar em São Lourenço da Mata e Moreno. Completados seus dezessete anos e começou a trabalhar, inicialmente na Associação Comercial de Pernambuco, depois no Departamento de Estatística do Estado. Desde cedo (1945) mostrou interesse pela palavra, pela literatura de cordel e almejava ser crítico literário. Conviveu com Manuel Bandeira e Gilberto Freyre, que eram seus primos. Com apenas o curso secundário mudou-se para o Rio de Janeiro e ingressou no funcionalismo público. Três anos depois, através de concurso, mudou-se para o Itamarati, ocupando cargos diplomáticos e morando em várias cidades do mundo, como Londres, Sevilha, Barcelona, Marselha, Berna, Genebra.
Avesso às ideias promulgadas pelo Modernismo, sobretudo fazendo referência a Mário e Oswald de Andrade, o poeta mostrou-se preocupado com a forma e com a estética. Entre as características do poeta em questão estão à objetividade e a contenção, ou seja, longe de se comparar ao lirismo pungente dos artistas da era romântica, sua poesia é inspirada nos objetos, na realidade, no próprio cotidiano – fato que o faz se apresentar não como um artista sonhador, mas sim como um crítico e observador de tudo aquilo que o rodeia. Segundo ele mesmo afirmava, as palavras são concretas e possuem uma organização rigorosa,