Josue fachusc
6822 palavras
28 páginas
ENTREVISTAA GUERRA EM SURDINA DE BORIS SCHNAIDERMAN Uma entrevista e algumas interferências
Antonio Pedro Tota* César Campinani Maximiano** Adriano Marangoni***
Boris Schnaiderman, ucraniano de nascimento e brasileiro por adotar a nacionalidade, é bastante conhecido no meio acadêmico e literário pelas primorosas traduções de Tostoi, Dostoievski, entre outros da literatura russa, e responsável pela criação do curso de Língua e Literatura Russa da Universidade de São Paulo (USP). Boris nasceu na Ucrania no mesmo ano em que eclodiu a Revolução Russa. Mas há um lado do professor Boris Schnaiderman que não é tão conhecido como sua produção acadêmico-literária. Ele foi um soldado que lutou nos campos de batalha europeus durante a Segunda Guerra Mundial e registrou experiência de combatente num livro ficcional chamado Guerra em surdina, que teve várias edições, a última pela editora Cosac & Naify. Boris Schnaiderman – Eu vim ao Brasil com 8 anos, em 1925. Meus pais saíram legalmente da União Soviética – naquele tempo isso era muito difícil, mas houve um curto período em que se conseguia. Nós viemos com passaporte soviético. Ficamos primeiro no Rio de Janeiro e, depois de alguns meses, viemos para São Paulo. Meu pai era comerciante e, por isso, não se dava bem com o sistema, o que é natural. Porém, no período da nova política econômica (NEP), ele se virou bem, tanto é que lá vivemos muito bem. Vivíamos até em condições privilegiadas, pode-se dizer. Lembro-me, por exemplo, da fome na Rússia, mas também me lembro que, em casa, passávamos bem. Na Ucrânia, morávamos em Odessa, que apesar de ucraniana é uma cidade tipicamente russa. Pelo menos era assim, naquela época. Não sei como é hoje. Eu ouvia ucraniano na
Proj. História, São Paulo, (30), p. 327-342, jun. 2005
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18-Entr-(Boris).p65
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9/6/2006, 12:09
rua, mas ucraniano, para mim, era algo completamente estranho. Viemos para cá. Os primeiros anos foram difíceis, pois tínhamos grandes