jornal
Social,
vol. XVI (61-62), 1980-l.º-2.°, 429-445
Maria Helena C. dos Santos
Imprensa periódica clandestina no século XIX: «O Portuguez» e a Constituição"
1. O JORNALISTA E O JORNAL
Hoje um jornal é um trabalho colectivo. Ao director pode caber o artigo de fundo e talvez a orientação geral do jornal, mas todas as tarefas são distribuídas por jornalistas e outros profissionais que quotidianamente as cumprem.
Na imprensa clandestina do século xix, o jornalista-redactor era o jornal. Ele desempenhava, muitas vezes sozinho, todas as tarefas de elaboração do periódico até que era entregue na tipografia e depois recuperava-o para fazer a distribuição e endereçá-lo aos assinantes. Referindo-me concretamente a
O Portuguez, que é editado em Londres, em duas fases, de 1814 a 1822 e de 1823 a 1826, podemos afirmar que o redactor, João
Bernardo da Rocha Loureiro, bacharel por Coimbra, era o único responsável pelo periódico, que devia sair mensalmente, embora para cerca de 120 meses tenha publicado 89 números, num total de mais de 8000 páginas. O formato é em 8.° e cada número tem pouco mais de 100 páginas. Estará mais próximo, no formato, do que hoje são as revistas, mas não se lhes pode comparar nem pela variedade de temas, nem pelo tratamento dos assuntos.
Há uma uniformidade total no desenvolvimento do noticiário que advém da visão do único redactor e há também uma unidade visível na objectividade temática. O jornal é, na sua totalidade, um periódico político e, de 1814 a 1820, um periódico de oposição, por isso escrito no estrangeiro e introduzido clandestinamente em Portugal.
O Dr. Rocha trabalhara em Lisboa com Pato Moniz e Costa e Simas, com banca de advogado, e tivera a sua primeira experiência jornalística como redactor associado no Correio da Pe* Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
** Este artigo, preparado para uma intervenção oral, é a síntese de um trabalho que venho elaborando