Insuficiência renal crônica: uma vivência permeada pela perda da ilusão onipotente e retorno ao estado de dependência
Carla Rubin Comin1 Ruben Artur Lemke2
As principais condições para a saúde mental dependem da habilidade que o indivíduo alcança de reter ou restaurar a própria auto-estima frente às situações adversas que certamente irão surgir no decorrer de sua vida, como por exemplo, o surgimento de doenças crônicas que, de acordo com Giovannini, Bitti, Sarchielli e Speltini (apud Ribeiro, 1998, pg. 46), consistem em: “Todas as doenças de longa duração, que tendem a prolongar-se por toda a vida do doente, que provocam invalidez em graus variáveis, devido a causas não reversíveis, que exigem formas particulares de reeducação, que obrigam o doente a seguir determinadas prescrições terapêuticas, que normalmente exigem a aprendizagem de um novo estilo de vida, que necessitam de controle periódico, de observação e tratamento regulares."
Partindo do principio de que o hospital e, consequentemente a maioria dos ambientes médicos, cooperam para um quadro de despersonalização dos indivíduos, Camon (1999) aponta que o paciente deixa de ter sua própria identidade e passa a ser reconhecido a partir do diagnóstico que recebe. A passividade, resultante da impotência frente ao adoecimento e à própria condição existencial, exige a ressignificação dos conceitos que permeiam sua vida. Ainda segundo o autor, embora o processo de despersonalização alcance todas as esferas do tratamento, algumas técnicas são sentidas como mais invasivas e agressivas.
O individuo que obrigatoriamente passa cerca de doze horas semanais em um ambiente hospitalar, sendo submetido aos trabalhos de uma máquina que executará uma função que “ele próprio” já não é mais capaz de exercer, certamente sentir-se-á desprovido de autonomia, virilidade, e até mesmo de competência. Há uma alteração no direcionamento libidinal