Ideologias econômicas e democracia no brasil
Luiz Carlos Bresser Pereira
A transição para a democracia foi um longo processo no Brasil. Teve início em meados dos anos 70 e terminou somente no começo de 1985. Três anos mais tarde, no entanto, a maioria das pessoas acredita que o processo de democratização não está terminado. Raymundo Faoro disse recentemente que a transição para a democracia no Brasil está durando tanto que acabará sendo mais longa que o período do regime autoritário (FAORO, 1988, p.7). Compreendo este ponto de vista, mas não o aceito. A transição para a democracia terminou há três anos. Mas a democracia resultante é decepcionante, uma vez que não conseguiu solucionar os problemas econômicos e sociais que o País enfrenta. Em outras palavras, o regime político no Brasil é democrático, mas a democracia está muito longe de se consolidar. De fato, como o novo governo democrático tem se mostrado incapaz de superar os problemas econômicos e sociais existentes, surgiu uma nova crise política.
Num trabalho recente eu analisei a crise política hoje existente no Brasil uma crise de legitimidade e governabilidade e a relacionei à inabilidade do governo Sarney em obter credibilidade e ser fiel ao pacto político moderno e democrático que uniu os trabalhadores, a classe média assalariada e os empresários em torno da luta contra o regime militar autoritário (BRESSER PEREIRA, 1986). Este foi um pacto entre as diversas classes do capital industrial moderno o tipo predominante do capital no Brasil. O governo Sarney, entretanto, particularmente a partir de 1987, foi dominado pelos representantes de um tipo de capital mercantil, arcaico, formado por políticos e empresários dependentes dos favores do Estado. A incompatibilidade entre o governo central e as forças econômicas e ideológicas hegemônicas no Brasil, bem como a inabilidade do governo em enfrentar a aguda crise econômica prevalecente hoje no Brasil produziram uma crise de legitimidade que põe em risco