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A construção do masculino: dominação das mulheres e homofobia *
Resumo: A partir de definições de homofobia e de heterossexismo, este artigo explora a profundidade heurística das relações sociais de sexo transversais ao conjunto de pessoas e grupos de gênero, no interior de um quadro teórico que rompe com definições naturalistas e/ ou essencialistas dos homens. O texto analisa os esquemas, o habitus, o ideal viril, homofóbico e heterossexual que constroem e fortalecem a identidade e a dominação masculina. Para desenvolver este argumento, o autor faz uma vasta revisão bibliográfica da literatura feminista francesa contemporânea.
Palavras-chave: masculinidade, homofobia, dominação, teoria feminista francesa.
Este artigo1 questiona as modalidades de análise a respeito dos homens e do masculino e o quadro teórico e os instrumentos utilizados para esta análise, à luz de meus trabalhos e dos debates atuais em diferentes redes que tratam deste tema. Apoio-me, em particular, no trabalho de síntese que realizei para o exame de habilitação em orientação2 e nos debates que atravessam a Rede Européia de Homens Pró-feministas e a Universidade euromediterrânea das homossexualidades.3 Este artigo completa as análises teóricas que publiquei em 1994 que definiam, entre outras coisas, o heterossexismo, a homofobia e suas ligações com a dominação masculina.
As relações homens/mulheres e homens/homens, analisadas aqui como relações sociais de sexo, parecem ser em todos os casos – hipótese que eu defendo – o produto de um duplo paradigma naturalista:
– a pseudo natureza superior dos homens, que remete à dominação masculina, ao sexismo e às fronteiras rígidas e intransponíveis entre os gêneros masculino e feminino;
– a visão heterossexuada do mundo na qual a sexualidade considerada como
“normal” e “natural” está limitada às relações sexuais entre homens e mulheres. As outras sexualidades, homossexualidades, bissexualidades, sexualidades transexuais... são, no