Homem Rico
SOBRE UM POBRE HOMEM RICO
(1890)
Quero lhes contar de um pobre homem rico. Tinha dinheiro e bens, uma mulher fiel que, com um beijo na testa, lhe livrava das preocupações que traziam os negócios, de um bando de filhos, que teria causado a inveja do mais pobre dos seus trabalhadores. Seus amigos o adoravam, pois tudo o que empreendia prosperava. Mas, hoje a situação é muito, muito diferente. E assim aconteceu:
Um dia, disse este homem a si mesmo: “Você tem dinheiro e bens, uma mulher fiel e filhos, pelos quais lhe invejaria o trabalhador mais pobre. Mas, você é feliz? Sabe que há pessoas que necessitam tudo o que lhe invejam. Mas as preocupações deles são afugentadas por uma grande fada, a arte. E o que é a arte para você? Nem sequer de nome a conhece. Qualquer adventício pode apresentar o cartão de visita e o seu mordomo lhe abrirá de par em par. Mas você ainda não recebeu a arte em sua casa. Sei bem que ela não virá. Mas vou a sua procura. Ela deve se instalar e habitar minha casa como um rei.”
Era um homem de muito vigor, o que pegava, o fazia com energia. Era costumeiro nos seus negócios. Assim, neste mesmo dia recorreu a um famoso arquiteto, dizendo a ele: “O senhor me ponha arte, arte entre minhas quatro paredes. O gasto não importa.”
O arquiteto não deixou que o dissessem duas vezes. Foi à casa do homem rico, jogou fora todos os seus móveis, fez vir um exército de assentadores de parquê, estucadores, envernizadores, pedreiros, pintores de paredes, entalhadores, encanadores, instaladores, tapeceiros, pintores e escultores, e zás!, sem se notar se havia prendido, empacotado, bem guardado a arte entre as quatro paredes do homem rico.
O homem rico era mais do que feliz. Mais do que feliz passeava pelos novos cômodos. Onde quer que olhasse havia arte, arte em tudo e por tudo.
Pegava arte quando pegava a maçaneta, sentava-se sobre arte quando se sentava em uma poltrona, apoiava sua cabeça em arte quando cansado a
apoiava