História e Natureza Humana de Maquiavel
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História e natureza humana em Maquiavel
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Num informe que, em 1502 – na condição de
Secretário do Conselho dos Dez da Guerra, cargo no qual era encarregado dos negócios e relações exteriores da
República de Florença –, Maquiavel escreveu sobre a situação de Chiana, informe intitulado “Do modo de tratar os povos do Vale do Chiana rebelados”, ele diz:
Ouvi dizer que a história é a mestra das nossas ações e máxime dos príncipes: e o mundo foi sempre, de certo modo, habitado por homens que têm tido sempre as mesmas paixões; e sempre existiu quem serve e quem manda, e quem serve de má vontade e quem serve de bom grado, e quem se rebela e quem se rende.1
Nesta passagem apresentam-se, de modo concentrado, as questões sobre as quais pretendo refletir neste ensaio. O seu ponto de partida aqui é a história: é ela a “mestra de nossas ações”; ao mesmo tempo, e por isso mesmo, ela parece nos permitir sentenças gerais sobre o
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1. N. Maquiavel, “Do modo de tratar os povos do Vale do Chiana rebelados”. In: Maquivel. Col. Os pensadores. Trad. br. Lívio Xavier.
São Paulo: Nova Cultural, 1987, pp. 322-323; “Del modo di trattare i popoli della Valdichiana ribellati”. In: Tutte le opere storiche, politiche e letterarie. A cura di Alessandro Capata. Roma: Grandi Tascabili
Economici Newton, 1998, p. 381.
comportamento humano: os homens tivemos sempre as mesmas paixões, alguns comandam, outros obedecem, alguns de bom grado, outros não... e assim por diante.
À nossa consciência histórica soa estranho ouvir ao mesmo tempo de história e de generalizações acerca do comportamento dos homens. Poderíamos, quem sabe, tomar essa passagem de Maquiavel apenas como uma constatação: efetivamente, se voltarmos nossos olhos para a experiência histórica até aqui conhecida, talvez não cheguemos a conclusões muito distintas. Além disso, os pares opostos nos quais ali estão