Hist rico ST Danilo
- QUANDO O TRABALHO DEGRADA
Apresentação
Um operário caiu do andaime em que trabalhava, na construção de um prédio, e "morreu na contramão atrapalhando o tráfego". Este verso duro no final da canção de Chico Buarque, que relata um "acidente de trabalho" da construção civil, ocorrido "à luz do sol", mostra que tais acidentes são dramáticos para quem os sofre, mas somente incômodos para quem passa ao largo. Resta saber o que significa para quem lucra com a utilização da força de trabalho que o acidente interrompe.
Uma situação vivida em fins da década de 80 em São Bernardo, São Paulo, relatada no Estudo de Caso a seguir apresentado, aponta para outros desdobramentos possíveis: um acidente fatal na Volkswagen gerou uma reação indignada dos seus trabalhadores, que paralisaram imediatamente as atividades e saíram em passeata de protesto pela Via Anchieta. Essa reação intensa, que foi seguida de inúmeras reações semelhantes, levou o Congresso dos Metalúrgicos de Santo André, em 1987, a decidir que, a partir de então, todo acidente grave ou fatal teria como resposta a paralisação imediata do trabalho, seguida de protestos que dessem a maior publicidade possível ao ocorrido. Aprovada calorosamente e seguida com sucesso, essa decisão desvelou, no entanto, uma realidade comum em outras categorias: trabalhadores continuam a operar suas máquinas mesmo com a permanência do cadáver do companheiro morto, ou do sangue fresco na máquina em que alguém acabara de se acidentar.
Nos atentados à dignidade humana que ocorrem no Brasil "a luz do sol", possivelmente os acidentes de trabalho e as doenças provocadas pelas condições de trabalho estão entre as que menos comovem a população em geral, que nem chega a ter notícia delas - inclusive pela manipulação das estatísticas - a não ser que comecem a "atrapalhar o tráfego".
O texto que se segue relata fatos e situações de que pouca gente tem conhecimento, apesar de sua gravidade. As condições de trabalho no Brasil