Hello Brasil! Notas de um psicanalista europeu viajando no Brasil - Contardo Calligaris
CALLIGARIS, Contardo. Hello Brasil! Notas de um psicanalista europeu viajando no Brasil (1991). CALLIGARIS (1991) em seu livro Hello Brasil! Notas de um psicanalista europeu viajando no Brasil apresenta um relato de sua viagem pelo território brasileiro a partir de uma perspectiva comum do cotidiano, a de “sermos um estrangeiro em nossa própria pátria”. Utilizando a psicanálise lacaniana como referência, o autor pretende estabelecer uma comparação entre a Europa civilizada e um Brasil da marginalidade e do desperdício. Através de uma análise discursiva, Calligari busca na relação entre colono e colonizador, a relação entre filho e pai, compreender as raízes do atraso brasileiro. O colonizador seria aquele que veio impor a sua língua a nova terra, aquele que veio possuir, explorar e gozar da terra até esgotá-la. Em terra estrangeira isso era possível à condição de deixar na pátria de origem o corpo interditado da mãe. Já o colono abandonara a sua língua materna. Sua esperança era outra, o que o diferenciava do colonizador era a procura de um nome, ou em outros termos de filiação e reconhecimento. Procurava, então, um novo pai que interditasse e que pudesse reconhecê-lo. O autor ressalta a importância de um “fantasma do corpo escravo” no discurso brasileiro. O legado mais trágico, portanto, dessa conjuntura histórica, desse encontro malogrado entre colonizador, colono e escravo, seria uma desconfiança em relação à autoridade e à lei, uma espécie de impossibilidade de levar a sério as instâncias simbólicas. Como sugere o autor, o gozo sem limites que o colonizador veio buscar no novo continente é um projeto que implica o desrespeito de qualquer significante paterno. Assim, o que é pedido a uma função paterna não seriam os limites que ela impõe ao sujeito, mas ao contrário a prova e demonstração de sua prodigalidade. O Pai ao qual se aspira seria aquele que não interditasse a mãe, mas ao contrário organizasse festivamente uma prodiga repartição do