Gênero, um novo paradigma?* ** LIA ZANOTTA MACHADO
**
LIA ZANOTTA MACHADO
Foi, com certeza, a “desconstrução” derrideana que inspirou o processo analítico da “desconstrução de gênero” desenvolvida pelas feministas no mundo anglo-saxão em substituição aos impasses metodológicos dos “estudos de mulheres”. A variedade de métodos desconstrucionistas acompanha a variedade dos olhares derivados dos diferentes lugares teóricos e políticos de fala. Para além de sua diversidade, a(s) metodologia(s) da desconstrução de gênero supera(m) impasses dos “Estudos de Mulheres”. Estudos sobre a condição, a situação e a posição das mulheres não pareciam ser capazes de responder aos desafios feministas, pois tendiam a se tornar descritivos e reiterativos, reificando a situação das mulheres. De outro lado, não respondiam aos anseios e desafios de um pensamento analítico e teórico.
A interrogação sobre se a introdução dos olhares a partir dos lugares das mulheres produziu novas abordagens e se o conceito de gênero se constitui em um novo paradigma, vem sendo suscitada no Encontro da Associação Nacional de PósGraduação em Ciências Sociais (ANPOCS), em outubro de
1997, no Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e PósGraduação em Letras e Lingüística (ANPOLL), em junho de
1998, e no II Encontro da Rede de Estudos Feministas
*
Recebido para publicação em novembro de 1998.
Professora Titular de Antropologia da Universidade de Brasília e
Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas do NEPeM/UnB.
**
cadernos pagu (11) 1998: pp.107-125
Gênero, um novo paradigma?
(REDeFEM), em julho de 1998, tornando visível a interdisciplinaridade desta preocupação. Este trabalho resume aspectos que apresentei nestes três encontros1 e busca responder ao espírito das questões propostas sobre gênero pela editora do Cadernos Pagu.
A generalização do uso do conceito de gênero no campo intelectual anglo-saxônico, nos saberes disciplinares da sociologia, antropologia, história,