good work
PUBFazer esta entrevista foi uma experiência única. Nunca fiz uma na minha vida, e provavelmente não voltarei a fazer outra. Porque aceitei o convite do PÚBLICO? Porque a proposta envolvia o Frei Bento Domingues, pessoa de quem fui próxima quando era estudante da Faculdade de Letras de Lisboa e ele frequentava a residência Domus Nostra, onde eu vivia. Depois, a ligação que fui mantendo com ele foi de papel. Através de livros e artigos. Ultimamente, através das crónicas agora reunidas nos dois volumes que motivaram a homenagem que lhe foi prestada na Gulbenkian. Estive lá entre os seus amigos. Pensei, então, que reencontrar-me com este homem, para uma fala demorada, seria uma forma de celebrar o correr do tempo. E assim foi.
Quando, no domingo passado, surgiu ao alto das escadas do Convento dos Dominicanos, em Lisboa, de braços abertos pelo atraso, foi como se não houvesse tempo. É o mesmo rapaz que na altura tinha andado por Salamanca e Roma, tinha sido perseguido e preso pela PIDE, era uma das cabeças mais arejadas da Igreja portuguesa, então submersa em beatério, e queria mudar o mundo. O mesmo rapaz que veio das montanhas com o mistério do eco na cabeça, lia Sartre e São Tomás de Aquino.
Sentámo-nos nos bancos da sua igreja, que elogiou como uma obra de talento. Mostrou os buraquinhos daquelas paredes altas que servem para abrir o som à música. Disse que a Arte ajuda a deslocarmo-nos no meio do enigma, a encontramos carreiros no escuro, como as formigas. Ele também falou das desgraças que assolam o mundo contemporâneo. Mas, como a sua fala daria para fazer cinco entrevistas, eu escolhi do que disse o que se aproxima dos