Funeral De Um Lavrador Ceriolli
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Funeral de um lavrador No dia 06-09-2011, foi assassinado mais um lavrador na luta pela terra. Desta vez foi na Bahia. Paulo Cerioli narra o seu funeral.Eis o texto.
A placa improvisada na beira do asfalto que liga Monte Santo a Euclides da Cunha indica Mandassaia a mais ou menos dez quilômetros. Um estrada de terra corta o sertão até chegar ao povoado. O povo está aguardando próximo a uma casa o inicio do enterro. Dentro, num caixão, está Leonardo de Jesus Leite. Companheiros e companheiras do CETA - Movimento de Trabalhadores Acampados e Assentados, vindos de outros municípios, foram os que velaram o corpo, durante a madrugada.
São nove horas da manhã. O sol já se faz arder na pele. De repente o caixão é carregado para fora da casa e para em frente. O choro, já calado, aflora pelo irmão inerte. A procissão inicia. Como que combinado, uma nuvem esconde parcialmente o sol e uma leve brisa aparece. A dor está no ar, os gritos ecoam e o soluçar marca o ritmo dos passos.
Param novamente em frente de outra casa. Parece que nela está sua mãe. A esposa ainda está em choque. Um dos dois filhos, pois são gêmeos, agora com sete anos, se recusa a acompanhar, já que o pai não vai mais acordar. Alguns homens retirem as pessoas que choram e as levam para a casa. E a procissão reinicia silenciosa rumo ao fim do povoado.
Um silencio pesado, que fala de uma vida de luta que aos 37 anos foi ceifada por um tiro a mando do latifúndio. Alguns sussurram que foram três jagunços os que fizeram o serviço. E o silencio volta apenas quebrado pelos chinelos que levantam poeira da areia que existe naquele caminho do sertão, rumo ao cemitério.
Testemunha desta marcha fúnebre são as parcas roças de milho, a beira do caminho, onde as plantas estão queimadas pelo sol, que voltou a arder. Estas roças ressecadas são tristes testemunhas de que ali vivem lavradores e que, por falta de chuva, nem a semente será colhida e o cuzcuz provavelmente irá faltar na medida em que a fome irá