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Prefácio Rui não se tinha na conta de artista, já que além de lhe haver faltado tempo para esculpir pacientemente, como acreditava deverem fazer os que se propõem à criação do belo, não se servira da pena e da palavra senão como “instrumento espontâneo de luta”. “Nunca tive tempo de ser artista”, diria, “e ambicionar entre artistas a admiração.” Quanto se enganava! É que de tal modo o empolgara a luta, numa vida inteira “de ação, peleja e apostolado”, que tudo o mais lhe parecia secundário. De fato, embora amasse as boas letras por um prazer de espírito, não estava nelas a razão de ser do bravo e infatigável batalhador, que, de certa feita, numa frase da qual ressumia certo orgulho, repeliria se lhe atribuíra “mera existência de um homem de letras”.
A verdade, porém, é que artista nascera, e artista seria até à morte.
Leia-se, por exemplo, esta página escrita em plena mocidade, e na qual, morto o pai, se defende dos ataques dos ultramontanos: “Eu conheço a ponta desse estilete, que fere em nome do Evangelho. É sempre o mesmo aço. É o mesmo sistema jesuítico. É a mesma praxe de devassar câmaras de moribundos para extorquir à fraqueza abjurações inconscientes ou trans igurar em conversões imaginárias atos comuns de piedade cristã. É a mesma arte com que, sob a invocação dos mortos, buscam dilacerar aos que lhes foram em vida mais estremecidamente caros.” É um trecho tomado quase ao acaso. Mas, não encontrarão aí os bons ouvidos aquele mesmo ritmo dos períodos ciceronianos? É que, trazido do berço, aperfeiçoado através das leituras, Rui, malsaído da adolescência, já o incorporara à sua maneira de falar e escrever.
Teria o artista, no entanto, dado de si tudo quanto podia? Joaquim
Nabuco, que bem o conhecia dos bancos acadêmicos, nunca se conformou com o fato de

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